O NOSSO ANO NO JAPÃO ( e o futuro do nosso trabalho )

(tradução livre do artigo escrito e publicado pela fbf, aqui: Fortunate Blessings @ Japan)



Ao aproximarmos-nos do fim de 2011…
… restam poucas duvidas de que os trágicos eventos no Japão moldaram a maioria dos esforços por parte das organizações internacionais de ajuda humanitária - providenciado respostas de emergência a nível de alimentação, água e abrigo para aqueles em necessidade. Tal como havíamos feito no passado, demos seguimento às suas respostas quando foi o tempo adequado de dar protecção à saúde mental e conforto aos corações das crianças. A qualquer lugar onde nos dirigimos, encontrámos centenas de garças em origami - como os da fotografia - enfeitando escolas e centros comunitários. Constantemente fomos recordados do amor e apoio vindo de todos os cantos do mundo.

Dando seguimento ao sucesso das nossas intervenções em Maio em diversas comunidades no Japão, regressamos ao terreno a meio de Outubro passando duas semanas com organizações de voluntários que continuam a prestar o seu apoio em zonas próximas de Fukushima. Tal como durante a primeira missão, demos formação a profissionais de saúde, enfermeiras, orfanatos, centros comunitários, pais e professores - com os nossos protocolos que ajudam crianças a lidar com traumas resultantes das desastrosas consequências do tremor de terra e tsunami de 11 de Março. Estamos seguros que nos nossos esforços reduziram dramaticamente o impacto da DSPT (Distúrbio de Stress Pós-Traumático) em crianças por termos actuado antes que as suas feridas se transformassem em cicatrizes de longa vida.


O nosso objectivo com as campanhas de angariação de fundos em 2011 não era apenas o de cobrir as nossas despesas relacionadas com a resposta ao Japão, e sim também o de constituir uma reserva de fundos para poder dar rápida resposta a qualquer futuro incidente. Infelizmente, apenas conseguimos alcançar o valor mínimo para as despesas deste próximo inverno dando resposta às operativas despesas quotidianas. Quando um novo evento ocorra, seremos novamente forçados a colocar em atenção o nosso trabalho, chamando mais uma vez o apoio de patrocinadores e amigos para nos ajudarem em novos esforços - a menos que consigamos ir recheando a nossa conta de reserva. Toda a ajuda é bem-vinda.

Para que possamos levar a cabo o nosso trabalho, o seu apoio é essencial na ajuda a cobrir os custos das formações que oferecemos gratuitamente a todos os participantes. Com a chegada ao fim do ano de 2011, mais uma vez sublinhamos a possibilidade de serem parte da causa e servindo-se da nossa plataforma de donativos. Os donativos podem chegar até nós via Paypal (seguindo o link no botão vermelho na barra lateral esquerda), via cheque, dinheiro ou transferencia bancária.


Graças ao vosso suporte no passado, podemos relatar estrondosos sucessos: os nosso esforços beneficiaram mais de 35.000 crianças no Sri Lanka, após o tsunami em 2004; 40.000 crianças em Java, após o tremor de terra em Bantul; assim com mais de 4.000 crianças em Samoa em 2009.
O custo estimado por criança ronda menos de 4 cêntimos e menos de 5% do valor angariado serviu para pagar despesas administrativas. Em 2011 trabalhamos com cerca de 500 crianças, trabalhamos e demos formação mais de 200 enfermeiros, assistentes sociais, centros comunitários, voluntários, pais, … Os nossos materiais traduzidos para japonês circularam em larga escala, através de manuais impressos e ligações na internet. Para além disso, a nossa presença no Japão foi reconhecido e louvada por diversos canais de comunicação - incluindo entrevistas na TV e artigos de jornais sublinhando a importância e singularidade da nossa abordagem e sucesso.


Como resultado deste trabalho, fomos novamente convidados para regressar ao Japão no próximo ano - patrocinados por uma das Universidades da região de Sendai - que oferece aulas a quem continua de forma regular a dar resposta às necessidades decorrentes do desastre. Esta colaboração internacional e proposta de estudos irá coordenar os serviços de voluntariado junto de pessoas desalojadas, que vivem em situação precária e temporária, onde o nosso treino em saúde mental é de vital importância.
Estamos também a formular um inovador projecto para dar resposta e reverter os efeitos nocivos da exposição à radiação, através da nossa associação a inúmeros centros de saúde. São extraordinárias notícias para nós e sublinham o nosso compromisso com as crianças e famílias no Japão.

Poderá dedicar um momento a esta causa e ajudar-nos a suportar o nosso trabalho, de modo a que possamos estar totalmente preparados na resposta aos desafios do futuro? Espreite o nosso novo site com uma plataforma através da qual pode ver como os seus donativos são aplicados no Japão.
Neste período em que dedicamos agradecimentos à nossa família e amigos, esperamos que considere uma especial atenção à nossa causa - que seja merecedora do seu apoio.


Um agradecimento especial pela sua dedicação em transformar o mundo em melhor.
Votos de um saudável e feliz 2012.

William Spear
President and Founder


A Fundação Fortunate Blessings é uma organização sem fins lucrativos, não-religiosa, dedicada à educação inovadora para o bem-estar, promovendo a integridade e vitalidade através de práticas alimentares e estilo de vida, para o alcance de harmoniosos e ecologicamente viáveis espaços de vivência, ambientes de trabalho e espaços públicos, e, numa escala mais global, para proporcionar o alívio de trauma após catástrofes naturais.

'avançar' através da negação


(tradução livre do artigo escrito e publicado pela fbf, aqui: Fortunate Blessings @ Japan)

O terramoto e tsunami que afectaram o Japão há pouco mais de oito meses atrás é, para a maioria das pessoas aqui em Sendai, pouco mais do que uma fagulha nas suas memórias.
Apesar de, como consequência destes desastres, cerca de 25.000 pessoas estarem listadas como mortas, e as que residem na área de Fukushima continuarem sobre a constante ameaça da contaminação da radiação, a maioria das pessoas que conhecemos nestes dias estão mais interessadas em esquecer o passado e seguir adiante do que em examinar as suas emoções reprimidas, raiva impotente e profundo desespero perante o que está a acontecer por aqui.

Enquanto participante nas formações com Elisabeth Kubler Ross, em meados da década de 1980, estive a trabalhar com um homem que foi forçado a assistir à morte da sua esposa e dos seus pais num campo de concentração alemão. A sua opressiva raiva e mágoa levaram-no a procurar ajuda numa das sessões públicas que serviam de treino prático para o trabalho pelo qual Elisabeth e a sua fundação se tornaram uma conhecida referência.
Como parte dos treinos Elisabeth sentava-se atrás dos seus formandos, discretamente orientando-os quando necessário, sempre que cada um de nós desenhava um movimento na jornada de aprendizagem do processo de facilitação e libertação de emoções distorcidas.

Depois de haver trabalhado uma considerável parte da sua profundamente enraizada angústia, este septuagenário de cabelo grisalho pareceu ter chegado a um palco onde se acomodou num espesso e assustador silêncio.
"Há aí algo mais?" perguntei-lhe, pronto para o ajudar a trabalhar através de mais uma camada. Após alguns segundos de introspecção, abanou a cabeça indicando que havia terminado o seu trabalho, informação perante a qual a sua linguagem corporal se demonstrava em nítido desacordo. Assim que me inclinei ligeiramente para a frente, da minha almofada colocada junto ao tapete onde ele se encontrava sentado, senti a mão da Elisabeth segurando o meu ombro e sussurrou-me ao meu ouvido: "Não tens o direito de retirar niguém do seu processo de negação."

Nas décadas seguintes, trabalhando com vítimas de incesto, violação, rituais satânicos, tortura, genocídio e todas as possíveis formas de perda, traição, terror, raiva, angústia e desespero, não sou capaz de identificar um ensinamento tão valioso quanto este para o trabalho com sobreviventes de desastres. Sendo capaz de reconhecer cada momento em que ser uma testemunha sagrada perante o sofrimento é, de facto, mais poderoso do que o remover o véu que as pessoas colocam como medida de sobrevivência perante memórias inimagináveis, posso acrescentar ainda mais valor a todos os que encontramos aqui em Sendai.

No Japão, neste momento, é um coração espremido em negação que encontramos tão evidente nas pessoas que conhecemos nesta visita. Como medida de optimização, a mudança do nosso foco de trabalho de ajuda para com a população em sofrimento para um mote de construção de uma melhor 'capacidade de preparação' para futuras intervenções deu-nos a possibilidade de sermos conduzimos pelas necessidades deles, ajustando os nossos workshop para uma revisão do passado de uma forma mais compreensiva, em vez de uma abordagem mais específica.
Este ajustamento resultou na criação de um bem sucedido novo alinhamento para os módulos de três horas, no qual a primeira hora se apresenta como uma didáctica abordagem de como a DSPT se desenvolve e pode ser prevenida. A segunda hora, maioritariamente experiencial e isenta de diálogos, conduz os participantes através de sequências de exercícios e movimentos que criamos para os 'playshops' com as crianças.
A última hora repete e revê os exercícios com detalhes específicos, explicando como e porque foram desenvolvidos, e como cada um se enquadra no modelo preventivo anteriormente apresentado de forma teórica.

Embora os benefícios desta nossa visita possam não ser tão evidentes como os da primeira incursão, sabemos que foi bastante significativo o impacto junto de com quem trabalhamos. Ainda de relevante importância, os resultados desta nossa experiência trouxeram-nos novas afinações neste novo esqueleto de formação para a construção de uma melhor 'capacidade de preparação'.

Num próximo artigo, o Jonah partilhará connosco mais sobre o último workshop em Tokyo.


a foto eleita :)

o_img 10082010 53 (em Darmstadt, Alemanha )

Sortudo sorteio

Sigam a BD e descubram se vão receber um momento congelado pronto a emoldurar.

PARABÉNS a quem o vai pendurar, e PARABÉNS a todos os participantes que contribuíram para o dinamismo da causa.





Para quem não conhece o passaroco em acção, eis aqui mais referências:
origami lucky crane [Senbazuru]



Este artigo foi publicado a partir de um equipamento carinhosamente cedido pela TBstore.

To_kyo * Kyo_to * To_kyo


Teclo em Kyoto. Recordo Tokyo.
Quem acompanhou as traduções dos artigos da fbf que fui publicando por aqui, estará a par dos ritmos com que nos fomos movendo.
Encontramos um Japão diferente do antecipado. Nas vésperas da nossa reunião em palco, com membros já em cena e alguns a caminho, foram emitidos assim à última hora radicais diferentes cenários dos até então prometidos.
O Japão que nos acolheu, enquanto equipe de mangas arregacadas para o trabalho, escondeu-se na vontade de esquecer o que lhe aconteceu, embalado pelo estímulo e pressões sociais para correr para uma rotina saudosa.

É gritante a energia do desânimo e acomodação, camuflada num estado de sonambulismo. Acena-se que a situação é grave mas escolhe-se um desvio que, em vez que acelerar um progresso, amarra um parte da força - sugando e aniquilando silenciosamente.
A adesão ao trabalho oferecido foi mais fraca em números do que desejaríamos, mas alentadamente acolhida e abraçada - fazendo-nos recordar que as dádivas são canais de oferta desapegada, valorizando qualquer um dos presentes no potencial que cada um é.

Sim, gostaríamos de ter trabalhado mais, ter interagido com mais.
Pessoalmente, mais uma vez encontro-me com deliciosas oportunidades de valorizar as dádivas na distinção do apego do resultado, do reconhecimento ou valorizações exteriores. Afastando-me mais uma vez das ideias de quantidade e abraçando com ainda mais vigor o louvor à qualidade - que creio que reside na genuinidade da entrega pura. Entregando-me.

Quem efectivamente nos acolheu, sorriu agradecido pela oportunidade de abraçar a simplicidade e eficácia das ferramentas partihadas.
Estivemos com pessoas que acederam às formações pela primeira vez; e com voluntários que já haviam estado presentes nas formações de Maio. Os segundos, trouxeram experiências do trabalho em campo - deliciando-nos com as histórias dos seus sucessos e enriquecendo debates de profundidade ao trabalho em curso.

Os agradecimentos foram solenes, engrandecidos pela gentileza japonesa.

Um dos novos participantes numa formação, que dirige um centro comuntário em Sendai, comentava que teme os próximos tempos nos quais, inevitavelmente, as pessoas começarão a ter que acordar e tomar decisões face a uma reconstrução mais cuidada de quem são e como querem viver.
As crianças mimetizam os pais e têm encontrado refúgio nos mundos virtuais dos jogos solitários, escapando a manifestação de emoções. Os pais, encurralados entre um trabalho necessário para a manutenção de um estilo de vida ou para a criação de novas oportunidades de vivência, absorvem-se nas rotinas que, sem alternativa, encerram um ciclo vicioso.
Na zona norte do país, multiplicam-se divórcios entre mães que querem proteger os seus filhos, saindo com eles para zonas mais seguras, e pais que se sentem obrigados a ficar para trabalhar. A grande maioria da população nestas condições, não tem alternativas. Muitos ainda pagam a casa que desapareceu..

Se recordarmos que tudo isto acontece num país que tem como tradição a contrição de emoções efusivas, em que tudo - para o bem e para o mal - é cuidado ao pormenor, percebemos o quão pernicioso pode ser este estado de nação.

Missão cumprida, na consciência de que fizemos o melhor que podíamos dentro das condições reunidas; de que deixamos sementes prontas a seguir o trabalho de germinação, e termos também sido brindados com a oportunidade de acompanhar as que frutificam.
Não há prognósticos para um regresso, embora todos percepcionemos o quanto importante seria continuar com o trabalho. Mas ele tem que verdadeiramente desejado e, enquanto o desejo global se mantiver no esquecer e camuflar, dificilmente se escolherá um caminho de aceitação e transformação - por mais eficaz que ele possa ser.



Da minha experiência pessoal, adiciono o desafio de me fazer integrar numa equipa já ritmada com missões em curriculum, da qual me despedi com a certeza dos laços universais que nos seguirão conectando.



* ARIGATO GOZAIMASU !!



PS - próximo artigo revelo a foto vencedora do sorteio:)




Este artigo foi publicado a partir de um equipamento carinhosamente cedido pela TBstore.

O regresso da equipa da fbf à cidade costeira de Sendai - a norte de Fukushima

(tradução livre do artigo escrito e publicado pela fbf, aqui:Fortunate Blessings @Japan)


Regressámos a Sendai, a cidade cujo nome formou as gordas dos jornais internacionais quando o aeroporto foi encerrado pelas das torrentes do tsunami.

Igualmente movimentada, a área central da cidade retomou a sua vida normal embora os seus residentes apresentem um estado de adormecimento e desconexão, resultado do choque a 11 de Março.

Conduzimos um workshop num novo centro comunitário, um recurso bairrístico de elevada importância no funcionamento como um núcleo de acolhimento para voluntários que vêm para ajudar nesta fase de rescaldo. Muitos voluntários dormem neste centro.

Este workshop foi organizado pelo Sr. Morita, um dos directores de uma escola que havíamos visitado na nossa anterior visita a Sendai, em Maio.Há medida que o grupo se começou a organizar, decidimos reduzir o tempo da formação teórica e ampliar o tempo dedicado aos exercícios físicos.
Recolhemos um exçelente feedback através dos questionários, nos quais praticamente todos os participantes nos gratificaram com elevadas pontuações, face a uma tarde que recordarão enquanto trabalham com as numerosas famílias e crianças ainda em sofrimento.Enquanto possa ser fácil a decepção face à fraca participação, recebemos a confirmação de que aqueles que ensinámos irão usar e transmitir as ferramentas apreendidas, na relação com os seus grupos de relativos ou em trabalho directo com as crianças.

Ainda necessitamos de apoio financeiro para esta viagem. Aceda PF ao link para visitar o nosso novo portal - fbf global - e descubra como o seu donativo pode servir para cobrir as nossas despesas.A vida deste lado é cara, o preço de um café pode facilmente rondar os 10€!!


Este artigo foi publicado a partir de um equipamento carinhosamente cedido pela TBstore.

Atravessando a prefeitura de Fukushima


(tradução livre do artigo escrito e publicado pela fbf, aqui: Fortunate Blessings @Japan)

Muitos dos nossos amigos e familiares estavam compreensivamente preocupados com a nossa exposição perante a radiação durante o nosso regresso ao Japão.

Obviamente, desde antes da nossa chegada, seguimos uma consciente dieta macrobiótica com predominância no consumo de sopa de miso, e uma atenta exclusão de açúcar e fruta. Como prevenção, adquirimos bons detectores de radiação que nos acompanham desde Maio, em cada etapa deste processo.


Relembrámos a sensação estranha sentida nas primeiras vez que atravessamos as zonas afectadas em Maio, tendo-nos dado conta da presença da radiação que atingiu o pico quando nos dirigíamos para norte de Tokyo, passando a oeste da central nuclear de Daiichi.

Nesta viagem, seguindo mais ou menos o mesmo percurso, a presença da exposição perante a radiação foi menos sentida; na verdade, a dose cumulativa de radiação a que desta vez nos expusemos até agora equivale a cerca de duas radiografias dentais (algo a que não tenho sido submetido nos últimos 5 anos, o que talvez ajude a equilibrar as coisas!).

O dosímetro praticamente atingiu o seu pico em 0.07mR/h, para quem acompanha estes valores. Há locais em Tokyo e áreas suburbanas que apresentam valores de 0.79mR/h que somam aos nossos valores de exposição acumulada.


Resumindo: estamos seguros, bem alimentados, sopas de miso diárias, bastantes algas, nori que-se-derrete-na-boca, e em presença atenta para com as cerca de 90.000 pessoas que foram obrigados a mudarem-se para casas temporárias - fruto da constante radiação que continua a ser libertada pela central nuclear.


O workshop em Sendai, no Hachihonmatsu Community Center será o nosso próximo destaque no blog.

Para acederem a imagens desta formação, acedam ao link Global Outreach no menu do lado esquerdo e depois em Images na linha de links no topo da página.

W.S.



Este artigo foi publicado a partir de um equipamento carinhosamente cedido pela TBstore