+ sobre a dádiva do valor

 
VALORIZAÇÃO
Há imensas curiosidades relacionadas com os sistemas de valorização em voga da nossa cultura actual.
Damos um extremo valor às coisas que nos apercebermos como escassas, como os diamantes e peças de produção limitada.
Mas, na verdade, quantas vezes nos recordamos de cada um de nós é imbativelmente exclusivo - um Ser irrepetível. Será que esta recordação nos poderá ajudar a valorizarmos-nos mais uns aos outros, a cada Ser que somos e com quem coabitamos? Será que somos capazes de estender esta valorização e respeito às diferentes expressões de Vida, singulares, que nos suportam?

ECONOMIA E REALIZAÇÃO PESSOAL
Sofremos quase todos de um medo e preocupação crónica de que não temos dinheiro suficiente e não vamos conseguir uma maquia que nos baste para [o que quer que seja]… A acumulação passou a ser o objectivo primordial da grande maioria. E o mais estranho efeito desta realidade, é que acabamos por experienciar uma infindável luta entre os nossos interesses económicos e as aspirações da nossa mais pura realização pessoal - chamemos-lhe a aspiração da nossa alma.
Se agimos com um estímulo predominante da inspiração da nossa alma, agimos com integridade. Somos generosos, afáveis, solidários, corajosos, permissivos, comprometidos. Reconhecemos o valor do amor e da amizade. Somos vulneráveis, abertos, apaixonados. Inspiramos confiança e confiamos. Sentimos-nos em paz connosco mesmo e confiantes de que somos parte integral de uma larga experiência, mais vasta - algo maior que nós mesmos.
Quando agimos com base na predominância dos nossos interesses económicos, com frequência ocorre disconectarmos-nos da pessoa inspirada que sabemos que fomos. Como se fossemos transportados para um campo onde  todas as regras foram alteradas. As qualidades da nossa alma parecem estar menos acessíveis. Sentimos-nos mais pequenos, corremos para agarrar ''o que é nosso''. Com frequência torna-mos-nos mesquinhos, egoístas, amedrontados, controladores, confusos, conflituosos, culpados. Vemos-nos como ganhadores ou perdedores, poderosos ou inúteis, e deixamos esses rótulos definirem-nos de forma paralisante - como se um considerável estatuto financeiro indicasse uma superioridade inata, e a sua ausência ditasse a falta de valor ou potencial. Reduzem-se as visões de potencialidades e alternativas. Tornamos-nos alvo de desconfiança, hiper-protectores, desesperançados. Apanhamos-nos em acções incoerentes com o nossos sistemas de valores, e incapazes de agir de modo diferente.

TRÊS MITOS:
Esta dicotomia entre o que valoriza o nosso Ser e a pressão de uma valorização económica, que nos condiciona a uma relação pouco saudável com o dinheiro, suporta-se em mitos como: 
 - o mito da escassez - que não temos suficiente (tempo, dinheiro, amor,…) para dar resposta às nossas necessidades;
 - o mito de que mais é melhor - de que se pudéssemos ter mais  (tempo, dinheiro, amor,…) daríamos uma melhor resposta às situações que se nos impõem;
 - o mito de que não temos alternativa - de que é assim que é e tem que ser.

Com base nestes três mitos, cometemos (e continuamos a cometer) tremendos estragos na Terra. Destruimos florestas, dizimamos rios, oceanos e lagos, envenenamos o solo. Isolamos segmentos da sociedade, encurralando-os em bairros e favelas, exploramos regiões e nações e forçamos jovens a venderem droga, ou os seus próprios corpos, a troco de uns trocos.
Enquanto algumas pessoas estão preparadas para o desafio ou críticas perante muitas das suas escolhas de vida, muito poucas se desafiam a questionar o papel do dinheiro como primordial para alcançar o que valorizam na vida.

Este comportamento, motivado pela cultura da escassez do dinheiro, dirige o movimento de crescimento pessoal a usar a linguagem da abundância. Uma vez que a abundância é o reverso da escassez, aporta os mesmos princípios de desigualdade dirigindo-os para um patamar assente  em algo que não necessitamos. Uma ideia bastante mais poderosa e salutar é o conceito da 'suficiência' e 'adequação', numa relação que respeita e suporta todos os intervenientes. Como disse o Gandhi: ''Há suficiente no nosso planeta (acreditemos ou não) para que cada um de nós viva feliz, de forma saudável e produtiva. Mas não há o suficiente para apenas um homem ganancioso .''

SUFICIÊNCIA vs ESCASSEZ
A suficiencia é um acreditar em nós mesmos, uma maneira mais simples de viver, de nos enfocarmos no que vivemos fatualmente - o Presente das nossas vidas - e valorizarmos essa existência; em vez de sobrevoarmos a suficiência- nem a reconhecendo - num movimento constante de aspirar por mais, mais e ainda mais.
O sanar da nossa relação com o dinheiro é um passo importante no movimento de uma indústria baseada numa economia de escassez (assente no consumo e lixo exponenciais) para uma economia de suficiência (baseada em 'suficiente' para todos os seres, e como consequência, aumentando a resiliência das comunidades e ambiente).

O foco na escassez dirige-nos para jogos de ''ou eu ou tu'' - um mundo de ganhadores/perdedores. Dentro desta lógica, movimentos cooperativos tornam-se irracionais, num discurso: a menos que tu me ajudes a ganhar a nossa associação é considerada contra-productiva. Confiantes na suficiência, transitamos para uma perspectiva de ganho simultâneo, num jogo do ''eu e tu'', onde todos somos ganhadores e trabalhamos num propósito comum.

DINHEIRO É VALOR?
Se o dinheiro é uma medida de valor, então ''a forma como usamos o dinheiro reflecte o nossos valores na vida''? Se sinceramente acreditamos num mundo melhor, então devemos fazer reflectir a aplicação do nosso dinheiro em concordância com os valores que professamos na nossa vida. Neste momento, parecemos estar a utilizar o nosso dinheiro maioritariamente em questões de sobrevivência (se somos pobres) ou para acumular  mais dinheiro (se somos ricos). Ambas as atitudes são motivadas pela noção de escassez. Ambas produzem escassez de um verdadeiro sentido de valor de comunidade e enfraquecem o espirito de comunhão.

Mas podemos usar algum do nosso dinheiro, motivados pela nosso sentido de suficiência, para nos investirmos de alma na transformação deste mundo, para nos juntarmos áqueles que estão comprometidos com este esforço - tornando possível a construção de um mundo melhor, criando uma cultura de vida sustentável.
Esta abordagem dá-nos a possibilidade de avançarmos para além da nossa imediata zona de conforto, saindo da zona da não-acção, para um novo nível de compromisso e participação na construção de um mundo melhor.


O maior privilégio na vida é viver de acordo com os nossos mais profundos valores.
Encontre as oportunidades para estabelecer este verdadeiro compromisso, criando uma relação que perdura - e que não termina numa dádiva desconexa.
Descubra o investimento com base na troca recíproca, apostando num melhor futuro - um investimento em generosidade do qual todos resultam beneficiados!


(este texto é uma adaptação de ensinamentos sobre Empowered Fundraising, por John Crof)